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Por John Walton
Muitos psicanalistas jovens, iniciantes, e também mais experientes que estudam a obra de Sigmund Freud e de Jacques Lacan, recorrem a publicações de outros psicanalistas, filósofos e intelectuais, principalmente lacanianos, dedicados a elucidar as obras desses psicanalistas para fornecer chaves de leitura, explicações e interpretações para melhor compreendê-los. Isso ocorre porque Freud e Lacan nos legaram vastos trabalhos, ensinos e ensinamentos repletos de enigmas, paradoxos, nuances e questões. Jacques Lacan, em particular, é conhecido por falar aforismos e por sua escrita barroca – feita, aliás, propositalmente.
O uso do expediente dos chamados “interpretadores”, divulgadores de um Freud e um Lacan elucidados, é útil para os leitores que demandam uma compreensão do sentido de seus ensinos com rapidez e que tem com eles uma transferência que os levam a confiar na leitura que eles realizam dos mestres. Porém, é importante indicar o problema da elucidação nas leituras em psicanálise.
A elucidação de Freud e de Lacan muitas vezes livra o psicanalista da angústia diante dos enigmas, dos mistérios, dos paradoxos e das questões que as psicanálises podem causar em cada um. Ao fazer isso, ela mitiga a solidão e o desejo do psicanalista a partir do que ele pode interrogar seu saber, os das psicanálises, os dos mestre e os do Outro e fazer seu ato de leitura particular.
Outro problema ocorre quando a elucidação é enviesada. Nesse caso, ela afasta o leitor dos enigmas deixados por Freud e Lacan à espera de leituras a serem feitas por cada um segundo sua posição discursiva.
Isso é especialmente problemático no caso das traduções de Freud e Lacan, quando embutidas com elucidações (enviesadas ou não) ao invés de se ocuparem apenas da transmissão dos significantes e das letras desses psicanalistas (o que, em se tratando dessas obras, já é muito!). Parece-me que é isso que torna as traduções de Freud e de Lacan tão problemáticas e de qualidade duvidosa.
Para uma leitura que articule os significantes e as letras de Sigmund Freud e de Jacques Lacan, o indicado é ter paciência nas dificuldades encontradas, sustentar a transferência com os mestres e suportar a angústia frente ao não saber correlativo ao inconsciente. É importante também relembrar que o melhor acesso à experiência do inconsciente é através transferência com a própria análise.
A leitura de outros psicanalistas que se proponham esclarecer e divulgar as obras dos mestres é importante quando possibilitam situar melhor os enigmas e as dúvidas nelas contidas, mas, mesmo assim, não deixam de ser outras propostas de leitura formuladas a partir de suas posições frente ao inconsciente.